Os Eunucos de José Afonso

Os eunucos devoram-se a si mesmos
Não mudam de uniforme, são venais
E quando os mais são feitos em torresmos
Defendem os tiranos contra os pais

Em tudo são verdugos mais ou menos
No jardim dos harens os principais
E quando os mais são feitos em torresmos
Não matam os tiranos pedem mais

Suportam toda a dor na calmaria
Da olímpica visão dos samurais
Havia um dona a mais na satrapia
Mas foi lançado à cova dos chacais

Em vénias malabares à luz do dia
Lambuzam da saliva os maiorais
E quando os mais são feitos em fatias
Não matam os tiranos pedem mais

Une chanson de Theo Hakola

Une chanson de Theo Hakola

Ô tendre jeunesse !

Ô tendre jeunesse, chose douce, chose fluide
Dites non à la vieillesse, Écoutez vos appétits
Ô tendre jeunesse, chose molle, chose humide
Dites non à la sagesse car un bon look n ‘a pas de prix

Laissez-nous vous vendre nos t-shirts pourris
Laissez-nous vous prendre pour de gros abrutis
qui font pour nous de la réclame en portant nos produits
qui nous paient pour faire la publicité qui nous a tant réussi

N’importe quelle crotte qui porte la marque, qui porte la marque qui brille
Achetez-la ô tendre jeunesse, faites monter nos profits
Faites-vous respecter ainsi par d’autres abrutis
Dépensez, ô tendre jeunesse, dépensez toutes vos vies

Que la marque rayonne de haut en bas, que personne ne soit à l’abri
des baskets et des casquettes ornés de la marque qui brille
Ne soyez pas trop regardants à l’égard de vos économies
Ô tendre jeunesse, remplissez nos caisses, faites multiplier nos fruits

Ô tendres chiens qui attachez si bien vos chaînes vous-mêmes :
Léchez, lavez, repassez, rapportez et portez vos laisses
Soyez complices avec la police de vos propres supplices
N’affichez pas vos faiblesses, ne vous écrasez pas comme des gonzesses
Ne vous habillez pas avec petitesse, ô chère et tendre et jobarde jeunesse
Apportez-nous toute votre largesse et oui, faites fructifier notre business !

Ô tendre jeunesse, ô idiote jeunesse, ô pauvre jeunesse, ô sotte jeunesse
Ô jeunesse bleue, ô jeunesse jaune, ô jeunesse verte, ô jeunesse conne
Ô jeunesse blanche, ô jeunesse rouge, ô jeunesse noire, ô jeunesse qui bouge
Ô jeunesse percée et anti-mondialiste, ô jeunesse tatouée et progressiste
Passez de la pommade à vos exploiteurs, passez vos commandes, n’ayez pas peur
Achetez le swoosh, mettez-nous encore une couche, ô tendre jeunesse, merci de tout cœur

Des victimes consentantes vous êtes, des consommateurs, des pauvres bêtes
des pigeons plumés jusqu ‘à la peau par la libre entreprise en plein assaut
Par le swoosh qui vous pousse à vous cribler de dettes,
Par la marque qui vous embarque comme des mauviettes
Par un tas de torchons déguisés en survêts
Par les manigances de la puissance qui colonise vos têtes…

Ô tendre jeunesse, chose douce, chose fluide
Dites non à la vieillesse, écoutez vos appétits
Ô tendre jeunesse, chose molle, chose humide
Dites non à la sagesse car un bon look n ‘a pas de prix

PRINCESA ENCANTADA – HISTÓRIA DE NATAL E ANO NOVO

Uma lindíssima princesa caminhava, como é hábito das princesas, num formosa floresta. Sonhava com um príncipe que, de acordo com as suas necessidades, lhe satisfizesse os desejos que nem a seu pai, o rei daquela e de todas as florestas conhecidas e por conhecer, se atrevia a confessar.
Olhava os voos assustados dos pardais, ouvia o marulhar das águas nas pedras do ribeiro, sentia o perfume das flores e tudo lhe parecia sem sentido.
Subitamente, um sapo postou-se na sua frente. Maldisse os deuses e a sorte maldita, que naquele dia não estava para beijar focinhos nojentos. Afinal já tinha beijado quinhentos e trinta e quatro sapos e de príncipe, nada.
Era sua obrigação beijar todos os sapos que lhe aparecessem, e assim fez também com aquele, com os lábios retraídos de nojo incontido.
Desta vez, e pela primeira vez numa longa história de beijos a bichos nojentos, o sapo transformou-se num garboso príncipe, exactamente como o tinha sonhado quando, dentro de lençóis de cetim, não conseguia conciliar o sono. Finalmente, podia ser feliz e, de acordo com as tais necessidades, satisfazer os seus desejos.
O príncipe, ele, olhou para a lindíssima princesa e sentiu o fogo da paixão invadir-lhe o coração e o resto do corpo como não se lembrava de alguma vez ter acontecido enquanto fora sapo. E num impulso, beijou a princesa, tal como ela o tinha beijado a ele, mas sem nojo, na busca de que, de acordo com as suas necessidades, as dele agora, ela lhe satisfizesse os desejos mais íntimos. E a princesa transformou-se, então, numa lindíssima garrafa de cerveja. E foram felizes para sempre.

O PASTOR AMOROSO – FERNANDO PESSOA

O pastor amoroso perdeu o cajado,
E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,
E, de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe para tocar.
Ninguém lhe apareceu ou desapareceu… Nunca mais encontrou o cajado.
Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as ovelhas.
Ninguém o tinha amado, afinal.
Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa, viu tudo:
Os grandes vales cheios dos mesmos vários verdes de sempre,
As grandes montanhas longe, mais reais que qualquer sentimento,
A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem,
E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor, uma liberdade no peito.