Portugal aos Olhos de Jacques Amaury

(As dificuldades de Portugal) “Devem – se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE para o esforço de adesão e adaptação às exigências da união.   Foi o país onde mais a CE investiu “per capita” e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou a esmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.   Os dinheiros foram encaminhados para auto-estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições publico – privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração publica, o tácito desinteresse da Justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.   A política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando – se num enorme peso bruto e parasitário.”
(…)
“Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país: as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à industria e comércio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países.   Ora, é bom de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o “chefe” recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres.   A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e Tv oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais democratas, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem levanta o mínimo problema ou dúvida. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descritos e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho enquanto, o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes, foi notória.   Não há um único meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, “non gratas” pelo establishment, onde possam dar luz a novas ideias e à realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfano que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia.   Só uma comunicação não vendida e alienante, pode ajudar a população, a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, a exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios.”

Les inégalités de revenus continuent de se creuser par le haut

28 avril 2011

dette.1279527283.jpgPlus on est riche et plus les revenus et le niveau de vie augmentent plus fortement que pour le reste de la population. C’est ce que confirme l’Insee dans une étude, publiée jeudi 28 avril.

Intitulée  “Inégalités de niveau de vie et pauvreté de 1996 à 2008″, cette étude montre également que le niveau de pauvreté demeure globalement stable depuis 2002,les difficultés étant toutefois de plus en plus fortes pour les familles monoparentales et les personnes seules.

La “photographie” réalisée par l’institut national de staistiques s’arrête toutefois à 2008 et ne prend donc pas pleinement en compte les effets de la crise.
Niveau de vie : c’est la somme des revenus disponibles d’un ménage (revenus salariés, non salariés et du patrimoine, prestations sociales), moins les impôts directs, le tout étant ramené à l’unité de consommation.

Dans un ménage le premier adulte compte pour 1 unité, les autres personnes de plus de 14 ans pour 0,5 unité et les enfants pour 0,3.

Un ménage composé de deux adultes, un adolescent et un enfant représente par exemple 2,3 unités de consommation. Si son revenu est de 100, il faut diviser par 2,3 pour avoir le niveau de chacun des membres du ménage.

Niveau de vie médian : c’est le chiffre qui sépare la population en deux. En 2008, le niveau de vie médian se situait à 18 990 euros par an (1 580 euros par mois), contre 18 670 euros en 2007.
Cela signifie par exemple que, pour un couple avec deux jeunes enfants (2,1 unités de consommation), le revenu est de 3 320 euros par mois.

Niveau de vie des personnes les plus modestes : en 2008, 10 % de la population disposait d’un niveau de vie inférieur à 10 520 euros par an (+ 2,2 % par rapport à 2007).

Niveau de vie des personnes les plus aisées : 10 % de la population disposait en 2008 d’un niveau de vie supérieur à 35 550 euros par an (+ 2 % sur 2007).
Le 1 % de personnes les plus aisées -les “très hauts revenus”, comme on les appelle – se situaient à un niveau supérieur à 88 200 euros par an.
A l’intérieur de cette catégorie, 0,9 % de la population affichait un revenu compris entre 88 200 et 239 300 euros et 0,1 % de la population un revenu supérieur à 239 300 euros.

Seuil de pauvreté : le seuil de pauvreté correspond à 60 % du niveau de vie médian. En 2008, il se situait à 949 euros par mois.
Cela représente par exemple un revenu de presque 2 000 euros pour un couple avec deux jeunes enfants.

Qui est pauvre : 13 % de la population française se situait en 2008 en dessous de ce seuil, soit 7,8 millions de personnes. La proportion est quasi identique à ce qu’elle était en 2002.
La pauvreté touche surtout les personnes au chômage (35 % d’entre eux), les personnes seules (16,9 % d’entre elles en 2008, contre 15,1 % en 1996) et les familles monoparentales.
Pour ces dernières, le taux de pauvreté s’accroît depuis 2004 : la part des familles monoparentales pauvres est ainsi passée de 26 % à 30 %.
Et plus il y a d’enfants, plus la situation est difficile : en 2008, 53,7 % des personnes vivant dans des familles monoparentales avec trois enfants ou plus étaient pauvres, alors que la proportion était de 35,9 % en 2004.

L’Insee relève que la pauvreté “diminue seulement” pour les personnes vivant en couple, avec ou sans enfant. “Elle a diminué plus rapidement que pour l’ensemble de la population”, indique l’étude, rappelant que cette pauvreté reste malgré tout élevée pour les familles nombreuses : 19,7 % d’entre elles se situent sous le seuil de pauvreté, contre 27,8 % en 1996.

Inégalités de niveau de vie : elles continuent de se creuser par le haut, confirmant une tendance à l’œuvre depuis 2004, souligne l’étude de l’Insee.
La progression du niveau de vie reste ainsi plus forte pour les très hauts revenus comparativement au reste de la population.
Cette situation avait été mise en évidence, en juin 2007, par les travaux de Camille Landais, de l’Ecole d’économie de Paris, qui avait analysé la période 1998-2005.
Elle avait été confirmée, en 2010, par une étude de Julie Solard, pour le compte de l’Insee, portant sur la période 2004-2007.
“Entre 2004 et 2007, les très hauts revenus ont augmenté plus rapidement que ceux de l’ensemble de la population. En 2008, première année de crise, ce mouvement se poursuit mais ralentit”, indique l’Insee.
Cette différence est due “en particulier à une forte hausse des revenus du patrimoine (+ 11 % par an sur la période 2004-2008), qui sont fortement concentrés chez les personnes les plus aisées”, souligne l’étude.
Les études de Camille Landais et Julie Solard avaient montré que c’est aussi à travers “la rapide augmentation des inégalités de salaire” que se creuse l’’écart en faveur des plus riches.
L’étude de l’Insee, publiée jeudi, détaille l’évolution du poids de ce 1 % de la population la plus aisée dans le total des revenus.
On voit ainsi que la part du 0,9 % de Français dont le revenu est compris entre 88 200 et 239 300 euros, est passée de 4,76 % à 5,04 % entre 2004 et 2008.
La part du 0,1 % de Français disposant d’un revenu supérieur à 239 300 euros a quant à elle augmenté de 1,72 % à 2,03 %.
Sur la même période, la part des revenus perçus par les 9 % de la population disposant d’un revenu annuel compris entre 37 000 euros et 88 200 euros est restée stable autour de 20,7%.
Celle des revenus perçue par 90 % de la population française a diminué légèrement : 72,25 % en 2008, contre 72,86 % en 2004.

Já Falta Pouco… Pelos Vistos

Toika ultima programa de assistência financeira

Plano de ajuda deverá ser entregue ao Governo até ao final da semana

27.04.2011 – 18:57 Por PÚBLICO
 

O pacote de assistência financeira a Portugal já estará praticamente desenhado, pelo que, até ao final da semana, as equipas da Comissão Europeia, do FMI e do BCE deverão entregar ao Governo o memorando de entendimento do plano de ajuda, avança o Expresso no seu site.

 
 (Miguel Manso)

As equipas da missão externa que estão em Lisboa a negociar o pacote de ajuda com o executivo estabeleceram 4 de Maio como limite para terminar o processo, mas deverão entregar o memorando de entendimento ao executivo até ao final da semana, de acordo com o semanário.

Segundo o Expresso, entre 1 e 4 de Maio deverá realizar-se uma conferência de imprensa final com a presença dos chefes da missão da troika e do porta-voz do comissário europeu para os assuntos económicos, Olli Rehn. Nessa altura, já serão conhecidas as medidas no programa de ajuda.

Mulheres portuguesas representam mais de 60% da força laboral – OCDE

De Margarida Cotrim (LUSA)

Lisboa, 27 abr (Lusa)

As mulheres estão cada vez mais presentes no mercado de trabalho, com as portuguesas a representar já mais de 60 por cento da força laboral, um valor acima da média dos países da OCDE, de 59,6 por cento.
De acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), hoje publicado, em Portugal, a proporção de mulheres no mercado de trabalho em 2009 era de 61,6 por cento, um valor acima da média da Organização.
O estudo “Doing better for families”, conclui ainda que as mulheres participam cada vez mais em trabalhos remunerados, apesar das diferenças na intensidade laboral entre homens e mulheres.

Bruner – A Mente e o Significado

Bruner – A Mente e o Significadohttp://www.scribd.com/embeds/53968516/content?start_page=1&view_mode=slideshow&access_key=key-10jb65e5veys9d91wfth(function() { var scribd = document.createElement(“script”); scribd.type = “text/javascript”; scribd.async = true; scribd.src = “http://www.scribd.com/javascripts/embed_code/inject.js”; var s = document.getElementsByTagName(“script”)[0]; s.parentNode.insertBefore(scribd, s); })();

Identidade

Identidadehttp://www.scribd.com/embeds/53961628/content?start_page=1&view_mode=slideshow&access_key=key-26tpmwrjbbxlrvxf98bq(function() { var scribd = document.createElement(“script”); scribd.type = “text/javascript”; scribd.async = true; scribd.src = “http://www.scribd.com/javascripts/embed_code/inject.js”; var s = document.getElementsByTagName(“script”)[0]; s.parentNode.insertBefore(scribd, s); })();

O Verdadeiro Sócrates

Sabemos através, não de Platão, mas de Xenofonte que Sócrates discutia com os seus dicípulos questões de técnica política do mais variado teor: as diferenças entre diferentes tipos de constituições, a formação de instituições e de leis políticas, os objectivos da actividade de um estadista e a melhor preparação para ela, o valor da união política e o ideal da legalidade como a mais alta virtude do cidadão.
Sabemos, pela mesma fonte, que Sócrates foi um crítico da democracia tal como ela era praticada na Grécia do seu tempo: criticava a mecanização do processo político eleitoral, através do sorteio com favas e do princípio democrático da maioria nas leis da assembleia do povo. Foi também um acérrimo crítico da tirania, nomeadamente a levada a cabo pelo seu antigo discípulo Crítias. Este chegou mesmo a proibir Sócrates de se dedicar ao ensino, sob uma velada ameaça de morte.
Para Sócrates, toda a educação deve ser política. Tem necessariamente de educar o Homem para uma de duas coisas: para governar ou para ser governado.
O Homem educado para governar, segundo ele, tem de aprender a antepor o cumprimento dos deveres mais prementes à satisfação das necessidades físicas. Tem de se sobrepor à fome e à sede. Tem de se acostumar a dormir pouco, a deitar-se tarde e a levantar-se cedo. Nenhum trabalho o deve assustar, por árduo que seja. Não se deve deixar atrair pelo engodo dos sentidos. Tem de se endurecer para o frio e para o calor. A este esforço pedido a quem deseje ser governante chama Socrates ascese.
Mas o ascetismo socrático não é a virtude monacal, mas sim a virtude do homem que deseja governar. Ascese é um conceito que equivale ao noso termo formação, que, para os governantes, deve ser de abstinência e autodomínio.
Por outro lado, Sócrates faz do problema da liberdade um problema ético. Considera livre o homem que representa a antítese daquele que vive escravo dos seus apetites. Este aspecto só tem interesse relativamente à liberdade política, na medida em que implica a possibilidade de um cidadão livre ou um governante ser, no sentido socrático do termo, escravo. Sócrates não propôs qualquer alteração da realidade social onde o conceito de homem livre se opunha simplesmente ao de escravo.
O autodomínio e a liberdade seriam, então qualidades a desenvolver no cidadão grego e no governante. Mas estas qualidades devem estar ao serviço da virtude política.
Nos primeiros diálogos de Platão, assistimos a debates sempre inconclusivos sobre o que é ser justo, o que é ser corajoso, o que é ser piedoso. Na verdade, se compaginarmos os relatos de Platão com os de Xenofonte, percebemos que, para Sócrates, a virtude do justo, por exemplo, ainda não é virtude, se não estiver assegurado que é honesto, corajoso, etc. A virtude do corajoso ou do honesto ainda não é virtude, se lhe faltar a virtude do justo, etc.
A virtude do Homem é, então, a virtude política: a busca desta virtude é o verdadeiro caminho socrático.
Ninguém deveria ser chamado a governar a Pólis, se não fosse virtuoso. Note-se que o virtuoso de Sócrates não tem nada a ver com o rei filósofo de Platão. É simplesmente aquele que, por ascese, isto é, por formação, se eleva à virtude política, porque é honesto, é justo, é corajoso, etc. e sabe colocar a sua virtude ao serviço da Cidade.

Portugal não precisava de ajuda externa e agências de "rating" têm de ser travadas (act.)

Portugal não precisava de ajuda externa e agências de “rating” têm de ser travadas (act.)

O sociólogo Robert Fishman escreve no “The New York Times” sobre o “desnecessário resgate de Portugal” e acusa as agências de notação financeira de distorcerem a percepção que os mercados tinham da estabilidade do País.

Portugal não precisava deste resgate. Foi sobretudo a especulação que precipitou o País para o pedido de ajuda externa. O culpado não foi o governo, mas sim a pressão das agências de “rating”. É esta a opinião de Robert Fishman, professor de Sociologia na Universidade de Notre Dame, num artigo hoje publicado no jornal “The New York Times”.

Na opinião de Fishman – que escreveu, em conjunto com Anthony Messina, o livro intitulado “The Year of the Euro: the cultural, social and political import of Europe’s common currency” -, a solicitação de ajuda externa à UE e ao FMI por parte de Portugal deverá constituir um aviso para as democracias de todo o mundo.

A crise que teve início no ano passado, com os resgates da Grécia e da Irlanda, agravou-se, constata o professor. “No entanto, este terceiro pedido nacional de ajuda não tem realmente a ver com dívida. Portugal teve um forte desempenho económico na década de 90 e estava a gerir a sua retoma, depois da recessão global, melhor do que vários outros países da Europa, mas sofreu uma pressão injusta e arbitrária por parte dos detentores de obrigações, especulações e analistas de “rating” da dívida que, por razões ideológicas ou de tacanhez, conseguiram levar à queda de um governo democraticamente eleito e levaram, potencialmente, a que o próximo governo esteja de mãos atadas”, salienta Robert Fishman no seu artigo de opinião publicado no jornal norte-americano.

O sociólogo adverte que “estas forças do mercado, se não forem reguladas, ameaçam eclipsar a capacidade de os governos democráticos – talvez até mesmo o norte-americano – fazerem as suas próprias escolhas em matéria de impostos e despesa pública”.

“Crise em Portugal é completamente diferente”

Apesar de as dificuldades de Portugal se assemelharem às da Grécia e da Irlanda, uma vez que os três países aderiram ao euro, cedendo assim o controlo da sua política monetária, o certo é que “na Grécia e na Irlanda, o veredicto dos mercados reflectiu profundos problemas económicos, facilmente identificáveis”, diz Fishman, realçando que “a crise em Portugal é completamente diferente”.

Em Portugal, defende o académico, “não houve uma genuína crise subjacente. As instituições económicas e as políticas em Portugal, que alguns analistas financeiros encaram como irremediavelmente deficientes, tinham alcançado êxitos notáveis antes de esta nação ibérica, com uma população de 10 milhões de pessoas, ser sujeita a sucessivas vagas de ataques por parte dos operadores dos mercados de obrigações”.

“O contágio de mercado e os cortes de ‘rating’ , que começaram quando a magnitude das dificuldades da Grécia veio à superfície em inícios de 2010, transformou-se numa profecia que se cumpriu por si própria: ao elevarem os custos de financiamento de Portugal para níveis insustentáveis, as agências de ‘rating’ obrigaram o País a pedir ajuda externa. O resgate confere poderes, àqueles que vão “salvar” Portugal, para avançarem com medidas de austeridade impopulares”, opina Robert Fishman.

“A crise não resulta da actuação de Portugal. A sua dívida acumulada está bem abaixo do nível de outros países, como a Itália, que não foram sujeitos a avaliações [de ‘rating’] tão devastadoras. O seu défice orçamental é inferior ao de vários outros países europeus e tem estado a diminuir rapidamente, na sequência dos esforços governamentais nesse sentido”, refere o professor, que fala ainda sobre o facto de Portugal ter registado, no primeiro trimestre de 2010, uma das melhores taxas de retoma económica da UE.

Em inúmeros indicadores – como as encomendas à indústria, inovação empresarial, taxa de sucesso da escolaridade secundária e crescimento das exportações -, Portugal igualou ou superou os seus vizinhos do Sul e mesmo do Ocidente da Europa, destaca o sociólogo.

Porquê os “downgrades?”

“Então, por que motivo é que a dívida soberana portuguesa foi cortada e a sua economia levada para a beira do precipício?”, questiona-se Fishman.
Na sua opinião, há duas explicações possíveis. Uma prende-se com o cepticismo ideológico do modelo económico misto de Portugal, com o apoio aos empréstimos concedidos às pequenas empresas, de par com umas quantas grandes empresas públicas e um forte Estado Providência, explica.

A outra explicação está na “inexistência de perspectiva histórica”. Segundo Fishman, os padrões de vida dos portugueses aumentaram bastante nos 25 anos que se seguiram à Revolução dos Cravos, em Abril de 1974, tendo havido na década de 90 um acelerado aumento da produtividade laboral, do investimento de capital por parte das empresas privadas, com a ajuda do governo, e um aumento dos gastos sociais. No final do século, Portugal tinha uma das mais baixas taxas de desemprego da Europa, sublinha também o professor.

Mas, realça, o optimismo dos anos 90 deu origem a desequilíbrios económicos e a gastos excessivos. “Os cépticos em torno da saúde económica de Portugal salientam a sua relativa estagnação entre 2000 e 2006. Ainda assim, no início da crise financeira mundial, em 2007, a economia estava de novo a crescer e o desemprego a cair. A recessão acabou com essa recuperação, mas o crescimento retomou no segundo trimestre de 2009”, refere.

Assim, no seu entender, “não há que culpar a política interna de Portugal. O primeiro-ministro José Sócrates e o PS tomaram iniciativas no sentido de reduzir o défice, ao mesmo tempo que promoveram a competitividade e mantiveram a despesa social; a oposição insistiu que podia fazer melhor e obrigou à demissão de Sócrates, criando condições para a realização de eleições em Junho. Mas isto é política normal, não um sinal de confusão ou de incompetência, como alguns críticos de Portugal têm referido”.

Europa poderia ter evitado o resgate

E poderia a Europa ter evitado este resgate?, questiona-se. Na sua opinião, sim. “O BCE poderia ter comprado dívida pública portuguesa de forma mais agressiva e ter afastado a mais recente onda de pânico”.

Além disso, Fishman afirma que é também essencial que a UE e os EUA regulem o processo utilizado pelas agências de “rating” para avaliarem a qualidade da dívida de um país. “Ao distorcerem as percepções do mercado sobre a estabilidade de Portugal, as agências de notação financeira – cujo papel na aceleração da crise das hipotecas ‘subprime’ nos EUA foi extensamente documentado – minaram a sua retoma económica e a sua liberdade política”, acusa o académico.

“No destino de Portugal reside uma clara advertência a outros países, incluindo os Estados Unidos. A revolução de 1974 em Portugal inaugurou uma vaga de democratização que inundou o mundo inteiro. É bem possível que 2011 marque o início de uma vaga invasiva nas democracias, por parte dos mercados não regulados, sendo Espanha, Itália ou Bélgica as próximas vítimas potenciais”, conclui Fishman, relembrando que os EUA não gostariam de ver no seu território o tipo de interferência a que Portugal está agora sujeito – “tal como a Irlanda e a Grécia, se bem que estes dois países tenham mais responsabilidades no destino que lhes coube”.