SE DEUS EXISTE, É O DIABO (a propósito da guerra santa)

Aqueles, que desejam a felicidade e têm a sorte ou o engenho de ter um pouco dela, sabem que a felicidade não existe. Não existe nem pode ser reduzida a algo que exista. Não são felizes aqueles que acreditam que a felicidade é aquele momento ou aquela pessoa que recordam com saudade. Nem sequer aqueles que pensam que a felicidade é o momento presente, ou a pessoa, ou a coisa que se encontram agora ao seu alcance. Esta é a forma mais simpática de se ser infelz. A felicidade pode ser um sentimento, um pensamento, um conceito, ou um conjunto de tudo isso, mas não existe, no sentido que nos permita defini-la e estabelecer os seus contornos. Podemos dizer que a felicidade é, que é um bom monte de coisas, mas nunca será nenhuma delas. Por isso, não existe como existem as coisas. Limita-se a ser o que é, sem alguma vez aceitar a concessão de existência. Existir seria deixar de ser o que é, e isso pode ser muita coisa, mas muito bom não é com certeza. À felicidade não lhe convém existir, para que seja o que é.
Tal como a felicidade, Deus não existe. Os crentes que fundamentam a sua crença nas provas de existência de Deus são muito pouco crentes. Crentes são aqueles que acreditam em Deus, mesmo sabendo que não existe. A Deus não lhe convém a existência, para que continue sendo. Neste sentido, os ateus são muito mais crentes e respeitadores da ideia de Deus do que muitos dos crentes que andam por aí a proclamar as glórias divinas. Se Deus existisse, com toda a sabedoria que lhe é própria, natural seria que lhe fosse cobiçado o lugar de saber e poder absolutos. O absolutismo de Deus seria naturalmente relativizado. É a existência de deus que implica a do diabo. Ora, a simples ideia de diabo é absurda, havendo Deus.
Os fanáticos religiosos desenvolveram a suas crenças a partir da existência de um deus. Esse deus pode não ser o mesmo para todos, pelo simples facto de existir. Assim, esperam alguma vez falar com ele, com o seu deus, para que ele os compense pela dedicação que lhe devotaram. O deus dos fanáticos é alguém, superior, é certo, mas muito mesquinho, capaz mesmo de ficar danado por haver alguém que adore um deus que não é ele. É este deus, fraco e com falta de auto-estima, o deus dos fanáticos, que quer a guerra santa. Esse deus existe, de facto, mas não é Deus. É algo que os homens adoram e a que erradamente dão o nome de Deus, por ser inconfessável o motivo da sua adoração.
Deus não  existe, e não sei se é. Mas se for, não é seguramente o que dizem dele.
O fanatismo, religioso ou outro, é tão só um excesso de dopamina, ou um desequilíbrio entre a dopamina e a serotonina. Para acabar com ele, basta-nos fazer rebentar um bomba de serotonina na proximidade desses fanáticos. Não morrerão por isso, e ficarão felizes. Já nada os impedirá de contar anedotas a respeito das virgens que os aguardam, a eles e à sua alucinação, após o rebentamento de bombas suicidas. Que hão-de elas fazer? Não faltarão ex-fanáticos a espreitar à esquina da rua para as ver a fazer entregas de bilhas de gaz ao domicílio. Aquelas que comprem um poço de petróleo, terão a vantagem de fazer a entrega das suas próprias bilhas. 
E o mundo será feliz, tanto quanto o permitir a felicidade que também não existe, mas que é. O que é a felicidade, talvez não saibamos dizer muito bem. O que é Deus, também será pouco provável que o saibamos dizer. Mas não reduzamos tudo à nossa ignorância.
 
 
 
 
 

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