GUIÃO PARA FICÇÃO

O aumento imparável do preço do petróleo terá seguramente consequências a médio e longo prazos. Todavia, não é líquido que essas consequências não resultem de derivações mais ou menos autónomas entre si.
Então poderíamos perspectivar as coisas deste modo, para uma obra de ficção:
1. Sendo o carvão uma fonte de energia muito mais abundante na natureza do que o gás natural, e tendo características energéticas que permitem uma utilização eficaz em quase todas as situações, actualmente suportadas pelo petróleo, a primeira alteração terá a ver com o retorno à exploração das minas de carvão.
2. Esta nova realidade colocará o Ocidente na situação de retorno a condições sociais e económicas de uma certa degradação, por lhe ser necessário, de novo, voltar à exploração, no seu território, de matérias primas, cujos custos terão de ser compensadores.
3. Por outro lado, a investigação científica encontrará novos condutores de energia, o que permitirá uma economia de cerca de 40% na sua distribuição. Desta descoberta resultarão enormes fortunas, ligadas à produção dos novos condutores de energia eléctrica. No entanto, só será possível substituir os antigos em zonas privilegiadas. Esta solução aumentará as desigualdades de uma forma nunca antes vista.
4. Assim, em lugar de assistirmos a um aumento permanente do preço do petróleo e das restantes fontes de energia, o controlo de preços será assegurado pelo sistema político. A energia deixará de ser simplesmente um bem acessível a todos, passando os seus beneficiários a ser escolhidos por critérios políticos.
5. Emergem um pouco por todo o lado novos regimes ditatoriais, para impor novas de regras de acesso à energia.
6. Os serviços mais afectados serão os que suportam a mobilidade dos cidadãos. Na maior parte das situações, a mobilidade será exclusivamente garantida por meios naturais: transporte puxado por animais, por exemplo.
7. A ausência de meios físicos de mobilidade aguçará a imaginação: a mobilidade (turismo, deslocações para o trabalho, etc.) será sobretudo virtual. Os meios informáticos serão então indispensáveis à sobrevivência. O comércio virtual organizar-se-á de forma a assegurar a continuidade das diferenças de estatuto sócio-económico actuais.
8. Progressivamente, as grandes cidades desertificar-se-ão. Nelas residirão exclusivamente marginais que, por falta de meios ou por incapacidade para compreender as mudanças em curso, sobreviverão em condições infra-humanas.
9. Novas realidades sociais emergirão, sobretudo centradas em pequenas comunidades que restaurarão modalidades arcaicas de solidariedade.
10. Perder-se-á a noção de país e de nação; restarão as noções de comunidade e de poder global anónimo.
11. Surgirão novas religiões para enquadrar, do ponto de vista moral, a nova ordem social. Essas novas religiões serão politeístas e panteístas.

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